Almas e Angola
O Ritual de ALMAS E ANGOLA teve sua origem no Rio de Janeiro, Estado que também serviu de berço para o surgimento da UMBANDA. Onde a UMBANDA surgiu em 1908, a partir da primeira incorporação do médium Zélio de Moraes.
UMBANDA e ALMAS E ANGOLA são na realidade manifestações "ritualístico/religiosas" distintas, apesar de utilizarem muitas coisas em comum, como por exemplo a incorporação de espíritos como : índios, velhos escravos, crianças, etc.
Muitos são os terreiros de ALMAS E ANGOLA, por exemplo, que se reconhecem como UMBANDA em ALMAS E ANGOLA, porém é muito importante lembrar que a UMBANDA em suas atividades internas é muito diferente de ALMAS E ANGOLA, principalmente na forma de cultuar os Orixás. Em ALMAS E ANGOLA por exemplo, existem rituais internos denominados "FEITURAS DE ORIXÁS" ou camarinhas. Nessas atividades o médium é "raspado", "catulado" e como ocorre no CANDOMBLÉ, sai ao público em sessão especial denominada "SAÍDA DE CAMARINHA".
ALMAS E ANGOLA e UMBANDA não podem ser vistas como uma mesma prática ritualístico / religiosa, pois tem suas características internas próprias, ou seja , realizam rituais distintos, apesar de terem se originado de troncos quase comuns.
A Origem do ritual de ALMAS E ANGOLA, ainda hoje é motivo de questionamento. Há quem afirme ser o ritual de ALMAS E ANGOLA originário da CABULA, movimento religioso oriundo do sincretismo afro-católico ainda ocorrido no período da escravidão, principalmente nas áreas rurais. A CABULA, segundo pesquisas refere-se aos rituais negros mais antigos, envolvendo imagens de santos católicos, herança da fase reprimida do CANDOMBLÉ, onde os negros mesclavam crenças e culturas. Quando no final do século XIX ocorre a libertação dos escravos, a CABULA já era presente como atividade religiosa afro-brasileira. Talvez a própria UMBANDA, tenha herança na CABULA, pois mantém forte a presença do Orixá em sua pratica doutrinária.No Rio de Janeiro, antes mesmo da origem oficial da UMBANDA (1908), eram comuns práticas afro-brasileiras similares ao que hoje conhecemos como CABULA, OMOLOCÔ e ALMAS E ANGOLA. Talvez o surgimento da UMBANDA tenha fornecido uma linha comum, possibilitando uma prática mais ordenada, orientada no desenvolvimento da mediunidade e na prática da caridade e auxílio a população pobre e marginalizada.
Um importante fato histórico ligado ao ritual de ALMAS E ANGOLA, e que merece ser registrado, é o "Terreiro do BABALÂO LUIZ D'ANGELO, localizado na Rua Iguaçu Nº57, no Bairro Engenho Leal - Estação do Trem - Rio de Janeiro. Segundo as pesquisas, o Babalâo Luiz D'Angelo praticava em seu terreiro o ritual de ALMAS E ANGOLA e foi ele que trouxe o ritual para Sta Catarina. Antes de abrir seu terreiro Luiz D'Angelo era filho de santo da Tenda Espírita Caboclo Tuiti, localizada no Bairro Cordovil, também no Rio de Janeiro. Foi nessa tenda que GUILHERMINA BARCELOS (Mãe Ida) conheceu Luiz D'Angelo e o ritual de ALMAS E ANGOLA.
O ritual de ALMAS E ANGOLA era praticado na Tenda Espírita Fé Esperança e Caridade de Luiz D'Angelo tendo como particularidade, daí a sua distinção da UMBANDA, as obrigações de camarinha. Nessas obrigações os médiuns eram graduados, começando pelo Batismo, passando pelo "Obori" ou obrigação de Anjo da Guarda, posteriormente pela obrigação de Pai ou Mãe Pequena e finalizando com a obrigação de Babalâo (homem) ou Babá (mulher). As obrigações de SETE, QUATORZE e VINTE E UM anos reforçam a obrigação de Babalâo ou Babá e fazem parte da atual fase do ritual já em Santa Catarina.
Santa Catarina conhece o ritual de ALMAS E ANGOLA após o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), quando Mãe Ida viaja com seu esposo para o Rio de Janeiro, a pedido de suas entidades espirituais, para buscar novas orientações no que se referia ao culto aos Orixás. Na época, Mãe Ida já tinha um terreiro de umbanda desenvolvendo muitos filhos de santo. A necessidade de fortalecer seus filhos com obrigações mais "fortes" (conta Mãe Ida) a fez buscar novos recursos dentro da cultura afro.
Foi no Rio de Janeiro, na Tenda de ALMAS E ANGOLA do BABALÂO LUIZ D'ANGELO, que Mãe Ida realiza, em janeiro de 1949, sua primeira obrigação no novo ritual. Na época com 29 anos, Mãe Ida se consagra como a primeira pessoa em Santa Catarina a entrar para o ritual de ALMAS E ANGOLA.
De 1949 até 1951, Mãe Ida faz algumas viagens ao Rio de Janeiro com o objetivo de conhecer o ritual mais diretamente, pois afinal já era de seu interesse converter seu terreiro até então praticante de UMBANDA para o ritual de ALMAS E ANGOLA.
Após um período necessário de adaptação, em 1951, Luiz D'Angelo vem à Florianópolis e oficialmente "abre" a TENDA ESPÍRITA SÃO GERÔNIMO no Bairro do Saco dos Limões, primeira Tenda de ALMAS E ANGOLA fundada em Santa Catarina.